Diante de tamanha repercussão que as declarações da estudante paulista de direito Mayara Petruso causaram no Brasil e até no mundo é que não poderíamos deixar de comentá-las.
No dia 31 de novembro último, após o T.R.E anunciar a vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff, no 2° turno das eleições presidenciais, a estudante de direito Mayara Petruso não concordando com o resultado resolveu disparar mensagens em sua página pessoal de uma rede de relacionamento virtual. Em um dos comentários feitos, a universitária atribuiu ao povo nordestino a responsabilidade sobre a eleição de Dilma Rousseff e completou: “Nordestino (sic) não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado.”
Não sei se descontrole emocional pela derrota de seu candidato de preferência, ignorância, ou reais intenções xenófobas e racistas foi que levou Mayara a escrever tais aberrações na rede mundial de computares. O fato é que com tal atitude ela esqueceu de observar alguns aspectos pertinentes que deveriam ter sido levados em conta, os quais comentaremos a seguir:
1. Antes de tudo e mais importante: Qualquer forma de discriminação de pessoas ou grupos é repugnante. Seja por divergência na cor da pele, na religião, na naturalidade. Sabendo disso e defendendo o bom relacionamento entre os semelhantes é que o ordenamento jurídico brasileiro considera crime todo tipo de discriminação. E aqueles que cometem crimes nós os conhecemos como criminosos. Então, por esse entendimento, Mayara Petruso ao escrever seus comentários não estava de forma alguma rebaixando o povo nordestino, mas sim rebaixando a si, tornando-se uma criminosa publicamente. A vergonha do Brasil não é aqueles que não possuem condição de terem educação para mudar o país, mas sim aqueles que tendo essa condição não fazem nada para fazê-lo.
2. Todo e qualquer estudante de Direito tem por obrigação conhecer a história de seu país. E, como todos nós sabemos, o Nordeste além ter sido o berço da colonização do Brasil (seja com Vicente Pizón no Ceará em 1498, ou em 1500 com Pedro Alvares na Bahia) foi lá também onde se iniciou a economia com a cana-de-açúcar. Foram fundamentalmente os nordestinos que construíram a atual capital Brasília. É um nordestino o presidente com maior popularidade que a história desse país já registrou (Lula). E é do Sudeste (Rio de Janeiro) o único presidente que sofreu processo de impeachment (Collor de Mello). Isso mostra que o local onde a pessoa nasceu não determina a índole, ou a capacidade dela. Mas ainda existem pessoas retrógradas que insistem em acreditar em teorias deterministas já rechaçadas a mais de 100 anos.
3. A estudante Mayara chegou a defender também que os nordestinos não deveriam ter direito ao sufrágio. Não entendo como pode se cogitar isso na cabeça de uma estudante de direito. Quem sofria esse tipo de discriminação, de não poder votar, até o início do século XX eram as mulheres. Depois de tantas disputas políticas para se conquistar um direito tão fundamental, quanto esse, de podermos escolher nossos representantes, fala-se em voltar no tempo e ‘’selecionar’’ aqueles que podem ou não exercer tal direito?
O que nos deixa muito feliz é a forma como a própria população se voltou contra o fato. Milhares de denúncias, manifestações e postagens contrárias as atitudes da estudante. Isso mostra o quanto evoluímos nessa questão, nos fazendo acreditar que atitudes como essa são fatos isolados e que dessa forma nunca mais (pelo menos no Brasil) veremos cenas como esta:
Diante da repercussão negativa que o caso tomou e mostrando o mínimo de dignidade esperada, Mayara resolveu deixar um pedido de desculpas na sua página no Orkut. O perdão é válido, no entanto não excluiu o crime (caso apenas de arrependimento posterior depois de consumado). Dessa forma, o Ministério Público irá indiciá-la por crime de racismo e xenofobia. Continuaremos acompanhando o caso para ver no que vai dar.
ESTAMOS DE OLHO...
Se é tabu falar sobre racismo no brasil quando se trata dos negros, imagine quando se trata dos nordestinos... O que não quer dizer que o preconceito não exista - fica lá, latente, aparecendo quando "convém".
ResponderExcluirSobre o sufrágio universal, uma informação: em alguns países da América Latina demorou muito para que os indígenas também tivessem direito ao voto. Na Bolívia, esse direito só foi conquistado em 1952. Preconceitos de gênero e étnicos dificultaram sempre a conquista do sufrágio universal.